terça-feira, 24 de setembro de 2013

O Rock in Rio, a motivação zero e a distração total

(I can't get no) satisfaction 


http://psicologiadospsicologos.blogspot.com.br/2010/08/i-cant-get-no-satisfaction-volume-2.html

Os 30 chegaram com tudo. Em troca de alguma experiência de vida e dos quilos a mais, percebi que eles levaram embora um tanto da minha disposição e ânimo para algumas coisas, especialmente no que se refere a entretenimento. Foi com surpresa que não tive vontade de ir ao Rock in Rio este ano. Eu, exímia superadora de limites e atravessadora de fronteiras para ir a shows e festivais de todos os tipos, me vi sem ânimo até para assistir ao RiR pela TV. Assisti a alguns trechos de shows e foi tudo. Dormi antes, dormi durante, acordei com uma música ou outra, e pronto, passou. Vi fotos de pessoas lá e me deu sono. Tudo bem que se no line up estivessem nomes como Counting Crows, Keane, Blur, um Noel Gallagher que se preze, apesar de não terem muito a cara do festival, eu até faria um esforço. Apesar do que eu troquei o Keane este ano por uma viagem a Londres e estou prestes a trocar o Blur de novembro em São Paulo por qualquer programinha meia boca, porque é em São Paulo e porque os ingressos já se esgotaram e estão uma fortuna na mão de cambistas. [A quem eu quero enganar, eu estou é com preguiça mesmo.]

Mas a verdade é que nessa minha onda de desmotivação eu tenho pensado muito sobre distração. Por que precisamos nos distrair o tempo todo? E nos distrair de quê, afinal? Tenho lido um pouco de/sobre Schopenhauer, o que também tem me levado a refletir um tanto sobre isso. Esses alemães com influências orientais me encantam. Schopenhauer, inspirador de Nietzsche, Hesse e Thomas Mann e um dos primeiros defensores dos direitos dos animais na Europa (mil motivos para amá-lo) via a arte como solução para as dores do mundo. "A arte é uma das raras fontes de luz e consolo em meio à noite da existência mundana." Não muito otimista, nosso amigo chegou à conclusão de que o livre arbítrio é nada mais do que uma ilusão, e que o homem é um ser à mercê das próprias emoções e desejos. E alguns séculos depois, concluo que o desejo de distração nos dirige praticamente o tempo todo. Não importa o que fazemos, é praticamente impossível nos concentrarmos numa só atividade. Uma olhadinha no facebook, no celular, na TV, e no final do dia contabilizamos uma quantidade assustadora de tempo perdido com coisas que não vão nos acrescentar praticamente nada na vida. E, ainda que tendo plena consciência disso, seguimos esse ritual diariamente.

Meu pai me mandou um e-mail esses dias com o título "A verdadeira essência do nosso dia a dia é distração total". Ao abri-lo, me deparei com um texto de Zeca Camargo, publicado no seu blog no G1. O trecho mencionado no título é da introdução do livro novo de 
Jonathan Franzen, "The Kraus Project", que reúne a obra do austríaco Franz Kraus. Fui mais além e li a matéria do "The Guardian" sobre o livro (lógico que já sondando como consegui-lo). Percebi que o Kraus já tinha chegado à mesma conclusão que eu desde o século passado, quando havia muito menos distração do que hoje, diga-se de passagem. 

Juntando tudo, poderia afirmar que o homem é um escravo da busca por distração. E pior, o que nos distrai hoje, amanhã não terá mais o mesmo poder de sedução, como o Rock in Rio não é mais para mim grandes coisas, então precisaremos buscar novas distrações em meio às obrigações do dia a dia. Precisamos recorrer cada vez mais à arte, como sugeriria Schopenhauer, ou ao que mais nos estimular, para fugir da dura realidade que não podemos escolher. Temos que preencher cada intervalo, cada segundo entre uma obrigação e outra, ou mesmo durante as tarefas que temos que executar, dividindo nossa atenção e rendimento para aliviar o cérebro do que não podemos fugir. Afinal, do que tanto precisamos fugir? Será a resposta a mesma para todos? Será possível, com o ritmo desenfreado de desenvolvimento da tecnologia e de involução do progresso moral e espiritual, nos dividirmos menos com distrações, nos tornando mais inteiros para o que fizermos e com quem estivermos? Fica a dúvida. Chegou a alguma conclusão?



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Apesar de você

Ainda não digeri os últimos acontecimentos que me sucederam. Lá no meio do lixo eu consegui remexer a poeira e reconhecer meus caquinhos, um a um, até conseguir compor alguma coisa parecida comigo. Eu que não via perigo. A verdade é que, por mais que me confundam, apesar de toda a maldade, eu sei quem eu sou. Por mais que tenha que mexer nas peças aqui e ali, por mais que precise reposicioná-las, por mais difícil que seja enxergá-las, eu quase sempre consigo me reconhecer. E eu gosto de quem eu sou. 

Você pode não gostar da minha voz quase sempre rouca, do jeito que fico mordendo a boca e mexendo impacientemente nos cabelos; da minha camisa xadrez surrada que gosto de usar quando não quero precisar pensar, da minha inocência burra de ver mágica em tudo. Pode achar meu mundo confuso e meu humor sem sentido. Pode achar que sou desengonçada, que eu ande curvada, que tenha as pernas tortas e esteja acima do peso. Pode rir dos meus medos, dos meus anseios, dos meus segredos. Pode achar que não sou nada na vida, que sou uma pobre coitada. Sei que não tenho vocação para as boas escolhas, e vi que nem na minha intuição eu posso mais confiar. A gente fica tentando achar em que ponto não fomos bons o suficiente. Mas apesar de gente como você, eu ainda vou amar ser eu e não vou querer ser ninguém mais.

O meu maior pesadelo nunca foi com monstros, com morte e destruição. Meu maior pesadelo sempre foi entrar num ônibus e me perder, não saber onde descer. E naquele dia, depois daquela noite sem dormir, depois de ter buscado me distrair com boas lembranças, que na mente insone se transformaram num carrossel fantasmagórico de mentira e realidade, com os caquinhos de mim na mochila, ainda sem saber como montar, eu me vi num ônibus barulhento com muita enxaqueca indo para algum lugar que deveria acabar na minha casa, na minha cama, no início de tudo, de onde eu nunca deveria ter saído. Aceite com resignação qualquer coisa ruim que lhe tiver acontecido. Lembre que você foi o ladrão da paz de alguém, e no mercado das más ações seu crime deve estar bem cotado. Aceite calado. Sofra em paz. Que as suas mentiras sejam bem pagas. Ainda não sou grande o bastante para te perdoar.




segunda-feira, 9 de setembro de 2013

M.'s apologies

Falando nele, encontrei o poema de desculpas do M. 
You know, friends are like mirrors.

"Can't (or Won't) say the reason why I did what I did, It is what it is... And I'm at peace where I live. Used to say I was childish & “Just like a kid” You were right. Now I'll never be as naïve (even if I want to) as long as I live. Bent truth's, & I lied to myself as I tried to forget you, Even though you never meant to & all the shit we went through, The most positive influence my life knew, was when I met You! Couldn't help but respect you, & from time to time I'd find you on my mind, Had to know you were fine & checked you up online, Saw you were good, you can't stop a star shine. But I didn't say hi, didn't want to overstep the line. Years go by & I get a friend request, from the person in this world that I least expect, You never know what's next, Go to “Accept” & press “Yes”, “Happiness is only real when shared” so I have No Regrets!"





sábado, 7 de setembro de 2013

Grasping to the good times - The Wolfspark

Nos encontramos no fim da tarde, M. dirigindo o carro de seu pai, um conversível prata - eu nunca gravo marcas. Fomos até o Wolfspark, ou Parque de Lobos, em Merzig, que havíamos em vão procurado anteriormente e nunca achado. Chegando lá, descemos do carro e caminhamos por entre as árvores altas, um pouco desfolhadas com a chegada do frio, pelo caminho que levava aos lobos. 

Éramos praticamente os únicos no parque. Estávamos encasacados e eufóricos, como sempre, conversando sobre coisas da vida. Era bom enfim entender e ser entendida - a pausa do alemão, substituído pelo bom e velho inglês. Mas não era só isso. M. sempre teve algo de louco e de livre, de poeta, de visionário e de marginal. Ele era o que mais se aproximava de mim naquele país de coisas muito sérias e muito urgentes, com um idioma de um só the contra um de exagerados der, die e das. Era simples e era familiar. Era trégua. 

Por entre as grades, víamos alguns lobos espalhados, marrons, negros e brancos. Paramos em frente ao grupo de lobos brancos, que acabavam de receber o jantar: galinhas vivas, içadas por uma gaiolinha amarrada com cordas, até então ignoradas por eles. Esperamos um pouco para talvez presenciar o espetáculo carnívoro nada bonito, mas curioso, dos lobos famintos destroçando as aves, o que não aconteceu e nos fez seguir mais adiante. 

Foi quando exatamente às seis horas da tarde todos os lobos romperam o silêncio com um coro de uivos em uníssono. Arrepio. Deu para notar que a quantidade de lobos ali era imensa, ou pelo menos foi a impressão causada pelo espetáculo. Andando mais à frente, qual não foi a nossa surpresa ao nos depararmos com a figura lendária de Werner Freund, o estudioso de lobos e criador do parque, que sob os olhares atentos de sua esposa encontrava-se dentro de uma das jaulas, cercado de lobos marrons, como se fosse um deles. Acenamos para ele, que nos ignorou friamente, como os lobos haviam ignorado as galinhas anteriormente. Aquele homem havia mesmo se tornado mais lobo do que gente - não que eu me admirasse que naquele país alguém preferisse mesmo ser lobo. 

Seguimos pelo caminho de volta, ainda extasiados por tudo o que vimos e ouvimos. Entramos numa cabana e tomamos uma cerveja servida praticamente na temperatura ambiente, como de praxe. Conversamos um pouco mais antes de partir. 

E é com a lembrança dessa tarde única e espetacular que eu acalmo o meu coração e finalizo o meu dia, já que a tosse não me deixa dormir.