sábado, 30 de novembro de 2013

Recomendo!




Intenso. Me via o tempo todo no lugar da Camila. Para quem também escoa seu excesso nas palavras.

"Hoje vou procurar a palavra que se perdeu, que escapuliu entre meus dedos, que escorreu por minhas mãos. Eu hoje vou conter nas letras esse fluxo que não para de me levar pra longe daqui. Eu hoje vou ficar aqui quieta, enquanto frases se formam, enquanto parágrafos inteiros se fixam na tela. Alguns fogem. E eu deixo que fujam porque sei que posso recuperá-los, melhores, adiante. Não me desespero mais. Encontrei o leito por onde escoar o meu excesso."

Camila Lopes

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

"Pobre máquina de querer e de sentir coisas"

http://wanderingmist.com/my-paintings/nameless-and-faceless-an-impressionist-painting-in-acrylic-media-on-paper/

“Eu pensava essas coisas vãs e me sentia muito cansado, e uma grande amargura estava em meu coração. Cruzei os braços sobre a mesa e neles descansei a cabeça; e como que adormeci. Então tive uma grande pena de minha alma e de meu corpo, e de todo mim mesmo, pobre máquina de querer e de sentir coisas."

Rubem Braga, Sobre o inferno


Quarto vazio, só meu. Quanto mais vazio, mais os pensamentos escorregam da cama, ocupam espaço, se acomodam, empurram as paredes, saem pela frecha da porta, tomam peso e forma. Penso no que não posso prever, no próximo emprego, nas contas, nas viagens que não vou mais fazer. Ou vou. Perco muita energia com coisas inúteis. Me entristece que me entristeça com coisas pequenas e fúteis. Preciso me transcender. Tento lembrar que a vida agora é aqui e não lá fora. Que chegou a hora de mudar tudo de novo. Meu universo é um eterno expandir e retrair. A gravidade me puxa para o centro até a pressão crescer tanto e me explodir num grande Big Bang para fora de novo, para longe, a anos-luz da rotina. 

Penso em como as palavras do meu amigo fazem sentido:

"É isso, querida... não nasci para viver uma vidinha caseira muito tempo em um mesmo lugar... não sei se terei uma carreira um dia... ou onde irei parar... e isso, para mim, é toda a graça de estar vivo". 

Talvez toda a graça esteja mesmo em não ser, em nunca se tornar e em não se preocupar com nada disso.