The Storm on the Sea of Galilee by Rembrandt
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O navio pende para a direta e para
a esquerda numa cadência fantasmagórica. Tremores esporádicos. Lá fora, neblina
de ocultar o horizonte. As ondas parecem pequenas daqui de cima, mas a real
proporção delas só é percebida quando se vê um barquinho sendo içado pelas ondas e despencando
ferozmente no mar bravio. Tentando distrair a mente e enganar o enjôo, vou
procurar algo para fazer e leio algo bem verdadeiro, sem a roupagem dourada dos contos de fada, mas tão cinza como o céu lá fora, sobre o amor.
Eu, que já amei e desamei algumas
vezes, que nem falo e sinceramente nem tenho interesse em saber se vivem algumas
das pessoas pelas quais eu já abri mão de muitos planos e por quem muitas vezes até
deixei de ser eu, não posso deixar de concordar com o que li e levantar com orgulho a
bandeira contra essa falácia toda.
Confesso que ponho uma etiqueta imaginária com prazo de
validade em tudo o que vivo ou me dizem atualmente. Sei muito bem que tudo vai
passar um dia. Isso tira muito a graça das coisas, confesso. Mas ajuda e muito
a não alimentar mais o abuso de confiança. Não é que eu não confie mais nas
pessoas, é que nada que venha delas faz mais parte do meu foco. O meu foco está
em mim. É o que me importa e é ao que eu tenho me dedicado. Fora disso, não sei
mais realmente o que vale a pena.
Só o que vem de mim pode me nutrir realmente, e só o que eu alimento pode me destruir; e esse gigante no momento jaz magrinho. Ainda sou capaz de amar, mas não mais esperando um final feliz. Não mais abrindo mão de quem eu sou. Surpreenda-me e prove-me o contrário se for capaz. Mais do que medo de me machucar, hoje tenho pavor de machucar as pessoas. Eu que sempre tive um certo prazer masoquista em quebrar a cara e errar de novo - veja só que covarde eu me tornei.
Só o que vem de mim pode me nutrir realmente, e só o que eu alimento pode me destruir; e esse gigante no momento jaz magrinho. Ainda sou capaz de amar, mas não mais esperando um final feliz. Não mais abrindo mão de quem eu sou. Surpreenda-me e prove-me o contrário se for capaz. Mais do que medo de me machucar, hoje tenho pavor de machucar as pessoas. Eu que sempre tive um certo prazer masoquista em quebrar a cara e errar de novo - veja só que covarde eu me tornei.
Acho que é como olhar o mar de
cima: só quem está lutando no barquinho contra as ondas sabe o que é uma
tormenta, e há até quem tenha prazer em enfrentá-la. Do grande navio eu não
sinto muita coisa. Depois de passar por tantas tormentas, eu prefiro me manter
num local mais seguro. O caminho pode até me confundir às vezes, mas não me engana mais. E pode
ser até que eu fale como leão, mas me sacrifique como cordeiro. É o suicídio
nosso de cada dia; mas eu não posso fingir mais que não sei o que eu estou
fazendo. É a navalha no pescoço da entrega. Vai encarar?