Dicas para os citadores de redes sociais pelo menos fingirem que leram
A preguiça de ler está aí, é uma triste realidade e se eu quiser evitar um diálogo com quem não lê vou ter que passar a viver numa semi-Sibéria intelectual, fato. Muitos não-leitores que querem parecer conhecedores de determinado livro ou autor buscam como atalho as citações - se limitam a conhecer os grandes da música e literatura nesses tempos de Facebook através do combo foto bonitinha + citação do suposto autor, como se um punhado de frases pudesse resumir a obra de alguém. Com o fenômeno, aposto que tem muito gênio da literatura se revirando no caixão por aí, sendo julgado como isso ou aquilo por uma meia dúzia de frases selecionadas de suas obras - ou não.
Caio Fernando Abreu, rei das citações de Facebook, #chatiado [sic] porque 2/3 das citações atribuídas a ele não são de sua autoria, segundo reportagem do Diário Pernambucano. |
Milan Kundera já havia observado que a literatura estava sendo substituída por um punhado de frases de efeito - e isso há décadas atrás. Nesses tempos de preguiça generalizada evoluída (principalmente no pensar) o fast food literário está mais do que em voga. Muitos opinam sobre este ou aquele autor ou o elegem como favorito tendo apenas como referência um punhado de citações de livros que nunca leram, e que nem ao certo sabem se a suposta autoria procede. [Isso quem se preocupa o mínimo em passar uma imagem de intelectualidade, porque nesses tempos de tanto faz, até escrever errado está sendo aceito e tido como inquestionável por uns e outros].
Pois bem. Peregrinando pela internet, achei uma matéria no mínimo interessante da Revista Veja de abril de 2008 (pseudointelectuais are gonna hate) sobre o livro Como Falar dos Livros que Não Lemos? do psicanalista francês Pierre Bayard. A matéria Manual da malandragem literária comenta o livro que ensina quem leu um livro pela metade, pulou páginas ou até nunca o leu, e por que não quem só leu uma citaçãozinha ou outra, a tecer comentários e se passar por um exímio leitor.
A arte de não ler
Preguiça à parte, a matéria da Veja toca num ponto importante: nesse oceano literário, o que vale a pena ler afinal? Não temos tempo de vida hábil para ler todas as publicações do mundo, e entre tudo o que existe convenhamos que há muita porcaria. Um trecho de Livros e Leitura do Schopenhauer é citado:
"Para ler o bom, uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta, e o tempo e a energia, escassos"
Seria o outro lado da moeda. Já que não se pode ler tudo, acabamos juntando quando necessário o pouco de informações que temos ou confiamos na opinião de quem já leu quando questionados sobre esse ou aquele livro/autor que até gostaríamos de ter lido, mas que não teve como até então. Acho que não vamos para o inferno por isso. Quem nunca? Através de citações e resenhas, podemos também avaliar a qualidade do que vamos decidir ler - o que não é 100%, convenhamos, mas muitas vezes ajuda.
Confira uma parte dela, e, para os menos preguiçosos mais interessados, a matéria na íntegra através do link. Ou seja, leia-a para aprender a comentar o que não leu (que ironia) com um mínimo de embasamento. No mínimo engraçado.