sábado, 6 de outubro de 2012

Simbologia e loucura


"As figuras simbólicas facilmente se tornam silhuetas de pesadelo. Disso é testemunha essa velha imagem da sabedoria, tão freqüentemente traduzida, nas gravuras alemãs, por um pássaro de pescoço comprido cujos pensamentos, ao se elevarem lentamente do coração à cabeça, tem tempo para serem pesados e refletidos; símbolo cujos valores se entorpecem por serem demasiado acentuados: o longo caminho de reflexão torna-se, na imagem, o alambique de um saber sutil, instrumento que destila as quintessências. O pescoço do Gutemensch alonga-se indefinidamente a fim de melhor configurar, além da sabedoria, todas as mediações reais do saber; e o homem simbólico torna-se um pássaro fantástico cujo pescoço desmesurado se dobra mil vezes sobre si mesmo — ser insensato, a meio caminho entre o animal e a coisa, mais próximo dos prestígios próprios à imagem que do rigor de um sentido. Esta sabedoria simbólica é prisioneira das loucuras do sonho."

Foucault, História da Loucura na Idade Clássica (1964).

Livrão!! Como diria Guimarães Rosa (referindo-se a sua própria obra), é uma "literatura para bois": não é feito para cavalos, que comem apressadamente, mas para bois, os quais engolem, regurgitam, mastigam devagar e só engolem de vez quanto tudo está bem ruminado. Só assim a comida é digerida e irá por fim fecundar a terra. 


Tukkiki Manomee, Long necked bird

Nenhum comentário:

Postar um comentário