quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Resenhando o “Pra que ter razão se eu posso ser feliz?”



Terminei de ler o “Pra que ter razão se eu posso ser feliz?” positivamente surpresa e com a certeza da inadequação do título, que no original é – aí sim - “The Battersea Parkroad to Enlightenment”. Tradutores, vocês me envergonham. Quando ganhei o livro, me assustei com esse título com cara de autoajuda e me senti bem desmotivada. Mas vamos lá: chegou a mim, é pra ler. Afinal, livro ganho de presente tem que ser lido logo, pra satisfação do presenteador que vive perguntando o que você achou [não, isso não é sério]. E que bom que foi assim que ele veio parar nas minhas mãos, senão nunca iria comprá-lo. Mas pelo visto a galera por aí está mais preocupada em ser feliz do que em ter razão e optou por um nome mais rentável pro livro, porque a maioria gosta mesmo é do batido passo-a-passo da felicidade. Infalível, só que não.

E vamos ao conteúdo. Me deparei logo nas primeiras páginas com uma citação do Hermann Hesse e senti que tinha algo mais ali:

“A felicidade é um como, não um o quê; um talento, não um objeto”.

Mas espera aí... ah, não! Lá vem os "felizes" de novo tentando me convencer a usar menos preto e a sorrir mais - foi o que eu pensei que me esperava nas próximas páginas, apesar de mais incentivada a prosseguir. E não foi nem autoajuda e muito menos discurso estilo Ursinhos Carinhosos que eu achei ali. 

Encontrei nas páginas do livro de nome duvidoso a adorável Isabel, uma mulher um tanto cética e absolutamente normal (tenho medo do título, já que segundo amigos não me encaixo nele, mas vamos lá) que conta a sua busca pela iluminação e autoconhecimento com o delicioso e sarcástico humor britânico, o que torna as suas desventuras um tanto divertidas. 

É disso que eu estou falando, gente. Não é fingir que o mundo é cor-de-rosa, é fazer do limão uma limonada, rir dos próprios desfortúnios, e, como ela mesmo diz, usar tudo para o próprio crescimento. A vida é o azedo e o doce, pena que a maioria só admire um sabor e queira te convencer como fanáticos religiosos de que só há uma forma de se atingir o reino dos céus: que você TEM QUE SER FELIZ (ou pelo menos demonstrar isso) O TEMPO TODO. Assim até ser feliz fica chato, já que virou obrigação. E eu sou do contra, já vou avisando.

Mas vamos à busca interior de Isabel. Através de cursos, tratamentos, workshops e o diabo a quatro, de tai chi a hipnose, ela vai se redescobrindo e se conhecendo melhor. Um trecho pra você sentir o tom do livro:

“A lição era: Só por hoje, vou agir de uma maneira que admire em outra pessoa. Que ensinamento ridículo! Isso significava viver segundo meus próprios padrões? Ou seja: acordar a uma hora razoável, ir pra academia, vestir-me bem e não andar relaxada dentro de casa, trabalhar o tempo necessário no computador, não comer biscoitos o dia todo, enviar cartas de agradecimento por convites para jantar, estar eternamente de bom humor, ler bons livros, cozinhar refeições de verdade... Não sou capaz de manter esses padrões nem por dez minutos, que dirá por um dia. Acho que nunca vou viver de uma maneira que admire. Ainda estou tentando viver de uma maneira que eu possa tolerar".

Nem preciso falar que eu me identifiquei com o jeito irônico dessa linda que busca algo maior: iluminação, crescimento espiritual, uma existência mais satisfatória, chame do que quiser, e não sair sorrindo por aí como boba alegre por mais que pisem no seu pé ou roubem seu lugar na fila, como sugere o título.

Muito recomendo a leitura do “Pra que ter razão se eu posso ser feliz?”. É leve, é bem humorado e, o que é raro nos livros novos (pelo menos nos que eu tenho me deparado por aí), bem escrito. Atenção a isso: um livro bem escrito! Então, dê uma segunda chance ao título ruim, que vale a pena - chame de “The Battersea Parkroad to Enlightenment” quando perguntarem o que você está lendo pra não pegar mal, inspire-se e boa sorte na busca pela sua própria iluminação.

4 comentários:

  1. Opa! O Livro me pareceu bem mais atraente agora... quando vi o título...hahaha meu nariz entortou loucamente... :^P

    Btw... Excelente resenha!

    Nem preciso dizer que compartilho da sua opinião sobre o tema...

    Beijos, Honey!

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  2. olha, democraticamente, confesso: o título em português me chamou muito a atenção!!
    não gosto de livros de autoajuda não, nem acredito em regras tarifadas pra iluminação. mas, certa vez, há algum tempo, eu andava meio que perdido, sem rumo, e, coincidentemente (ou não), recebi um cartão de um amigo que não via há bastante tempo. o tal cartão, feito por ele mesmo, era estampado com uma paisagem vista do alto de um penhasco e, em colagem, um cara saltando de braços abertos, como se iniciasse um voo (ou não rsrs), seguido da frase: não quero ter razão. quero ser feliz! isso mexeu muito comigo na época, pq percebi que o motivo do 'sofrimento' que eu enfrentava era, justamente, a vontade incontrolável de querer controlar tudo e ter razão sobre tudo. depois disso, conheci o budismo e, assim, hoje sei, pelo menos na teoria, que a felicidade não é um momento estático, mas uma escolha diuturna, que parte, invariavelmente, do conhecimento sobre si mesmo!! a gente se apega a coisas e pessoas que julgamos indispensáveis, enquanto não enxergamos que, antes das coisas e pessoas, precisamos entender a nós mesmos e, talvez, seja essa a grande missão da vida! tudo se torna completo depois que esse vazio interno que insistimos em sentir é preenchido. aí, sim, a gente se torna pronto pra compartilhar. é como penso. grande abraço pra vc...

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  3. Sua opinião, democrática ou não, é sempre bem-vinda, Artorius! Obrigada! :)

    O título é infeliz, na minha opinião, justamente por isso: se você o comprasse à procura dessa linha de pensamento, ficaria frustrado. Pra mim, foi um erro por associação: como se o tradutor ligasse "iluminação" a essa máxima de não buscar ter razão e abstrair, e tascasse assim esse título num livro que trata de autoconhecimento por achar que tenha a ver. Uma coisa é a sua ideia de felicidade, e outra a da autora. Nessa lógica, se pra mim felicidade é passar a tarde comendo brigadeiro, então traduziria "A Arte da Felicidade" de Dalai Lama por "Comendo brigadeiro" e estaria tudo bem. Eu talvez ficasse feliz com o título, mas os leitores chorariam. E com razão. ;)

    Coisa de tradutor pensar demais sobre isso.

    Quanto ao seu pensamento sobre a felicidade, ele tem me perseguido ultimamente e me feito pensar. Acabaram de me mandar uma mensagem assim: "Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois é necessário, antes de tudo, ser um". Não poderia concordar mais.

    Um abração!

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  4. rsrsrs... entendi! quanto à felicidade: sinceramente, não entendo essa matemática toda. é preciso sofrer pra ser feliz!?! o amor ou a felicidade é algo que se encontra depois da solidão?! ou, será, que tudo não começa de uma aceitação pessoal e da escolha que fazemos?! não sei, mas, se vc souber, gentileza, comunicar! rsrs vc me parece ser uma pessoa muito densa, com muito a compartilhar, então... tô querendo ler mais!! abraço forte!!

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