quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Pontilhismo

Então o que é a litost?


A litost é um estado atormentador nascido do espetáculo da nossa própria miséria repentinamente descoberta.


Milan Kundera, O Livro do Riso e do Esquecimento 


Queremos abraçar as ruínas para que não caiam, trancar a porta para que não saiam, tapar os ouvidos para não saber. 
Chorar no banho para que as lágrimas se afoguem em água morta. Acreditar em gente habitada na Terra, em mentiras sinceras. Insistimos em descer a estrada torta. Queremos quem nos frustra, quem nos muda para um ser estranho e perdido. Queremos pedidos concedidos, queremos ibope. Queremos fingir que não é questão de sorte. Queremos pintar o cinza de cor-de-rosa, virar o lado sujo para a parede. Acontece que é gota e eu tenho sede. Acontece que é muito trailer e pouco filme. Acontece que é lençol e eu tenho frio. Alguém já disse antes que sobra tanta falta. Eu só digo sempre que tá bom, tudo bem, deixa comigo. Eu só digo que consigo, que encaro, que conserto. Coloco o coração no bolso e digo que tá tudo certo. Eu aguento, eu aperto. Engulo o choro e finjo que não doeu. Vou tentando preencher essa tela com pontinhos, vou colando os caquinhos. Vou deixando que uma frase faça o meu dia, vou empurrando para o porão meus surtos de euforia, vou tapando com band-aid a hemorragia. Eu que ando tão cheia de auto-ajuda que queria mesmo era que tudo explodisse, ou que todos tivessem pelo menos a hombridade de assumir que não sabem o que fazer. Eu só queria te dizer que estou farta de economia, de egoísmo, de eufemismo, de precaução. Que tenho juntado as migalhas para não morrer de fome. Que o prato esfria. Que o tempo corre mais rápido na ampulheta quase vazia.


2 comentários:

  1. Desculpe o vocabulário chulo... mas... PQP! Que texto!!!! Mesmo se tratando de você, sweetie... (nunca espero qualquer coisa deste seu espaço) conseguiu me sacudir além do normal. Escrever com a coração é isso!

    As vezes... a vida não só cansa, como faz nossas entranhas se retorcerem de repulsa e revolta. E sempre estamos lá, tentando ver algo de bom naquela merda toda...

    Sobre o destino... Quem saberá? Talvez o que importe seja apenas como caminhar.

    Beijão!

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  2. Uma imagem vale mais que mil palavras, no vermelho da paixão ,no vermelho do movimento , mil desejos.

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