Você é as vidas que você toca.

A palavra coragem é muito interessante. Ela vem da raiz latina cor, que significa "coração". Portanto, ser corajoso significa viver com o coração. E os fracos, somente os fracos, vivem com a cabeça; receosos, eles criam em torno deles uma segurança baseada na lógica. Com medo, fecham todas as janelas e portas – com teologia, conceitos, palavras, teorias – e do lado de dentro dessas portas e janelas, eles se escondem.

O caminho do coração é o caminho da coragem. É viver na insegurança, é viver no amor e confiar, é enfrentar o desconhecido. É deixar o passado para trás e deixar o futuro ser. Coragem é seguir trilhas perigosas. A vida é perigosa. E só os covardes podem evitar o perigo – mas aí já estão mortos. A pessoa que está viva, realmente viva, sempre enfrentará o desconhecido. O perigo está presente, mas ela assumirá o risco. O coração está sempre pronto para enfrentar riscos; o coração é um jogador. A cabeça é um homem de negócios. Ela sempre calcula – ela é astuta. O coração nunca calcula nada.

Osho

Você é as vidas que você toca. Talvez venham lhe agradecer com os olhos cheios de lágrimas pelo seu exemplo, sua coragem, sua contribuição e seu esforço. Mas talvez nunca lhe dirão. Talvez lhe farão um discurso emocionado de despedida quando você partir para novas terras, ou quando se despedirem de você. Mas talvez não haverá tempo ou oportunidade para fazê-lo. Talvez lhe serão gratos por poder proporcionar a alguém algo único e edificante, abrindo mão de uma vida mais confortável para você mesmo. Mas talvez nunca o reconhecerão. Talvez alguém lhe diga o quanto você é importante e tocou a sua vida, talvez alguém que você nem mesmo conheça pessoalmente, pelo simples ato quase kamikaze de escancarar o coração na internet. Mas talvez ninguém terá coragem ou vontade de fazê-lo.

Eu sei que quando eu canso de mim mesma, quando fico exausta de nadar contra a correnteza, quando me vejo agindo mais com o coração do que supostamente deveria; quando percebo a loucura de me lançar ao mar sem saber nadar para salvar um afogado, movida por essa força que não me deixa pensar, só agir, sem medo algum de me afogar; quando me entristeço por não saber segurar minha língua e bradar pelos cotovelos minhas verdades e convicções no lugar e hora errados, para o público mais errado ainda; eis que surgem na multidão pequenos grandes exemplos de vidas comuns, porém corajosas, emocionadas, sinceras e agradecidas que me surpreendem e dizem o quanto as toquei. Pode ser em forma de palavras ditas ou escritas, de um aperto de mão, de um olhar, de um abraço ou até mesmo de um focinho gelado.  E isso é melhor do que qualquer presente de papel, de plástico, de pano ou de pétalas. Isso, senhoras e senhores, é a maior recompensa de se estar vivo; é o impulso mais forte da terra para se continuar respirando, ainda que com dificuldade, com a cabeça para fora d'água, nadando para frente quando a maré tenta te arrastar para trás, para o lugar-comum, para o tanto faz.

Aos meus alunos, amigos, familiares, leitores - em especial à Júlia e ao Arthur - e àqueles mais que eu pude tocar e por quem tive a honra de me sentir tocada - o meu muito obrigada.