sábado, 7 de setembro de 2013

Grasping to the good times - The Wolfspark

Nos encontramos no fim da tarde, M. dirigindo o carro de seu pai, um conversível prata - eu nunca gravo marcas. Fomos até o Wolfspark, ou Parque de Lobos, em Merzig, que havíamos em vão procurado anteriormente e nunca achado. Chegando lá, descemos do carro e caminhamos por entre as árvores altas, um pouco desfolhadas com a chegada do frio, pelo caminho que levava aos lobos. 

Éramos praticamente os únicos no parque. Estávamos encasacados e eufóricos, como sempre, conversando sobre coisas da vida. Era bom enfim entender e ser entendida - a pausa do alemão, substituído pelo bom e velho inglês. Mas não era só isso. M. sempre teve algo de louco e de livre, de poeta, de visionário e de marginal. Ele era o que mais se aproximava de mim naquele país de coisas muito sérias e muito urgentes, com um idioma de um só the contra um de exagerados der, die e das. Era simples e era familiar. Era trégua. 

Por entre as grades, víamos alguns lobos espalhados, marrons, negros e brancos. Paramos em frente ao grupo de lobos brancos, que acabavam de receber o jantar: galinhas vivas, içadas por uma gaiolinha amarrada com cordas, até então ignoradas por eles. Esperamos um pouco para talvez presenciar o espetáculo carnívoro nada bonito, mas curioso, dos lobos famintos destroçando as aves, o que não aconteceu e nos fez seguir mais adiante. 

Foi quando exatamente às seis horas da tarde todos os lobos romperam o silêncio com um coro de uivos em uníssono. Arrepio. Deu para notar que a quantidade de lobos ali era imensa, ou pelo menos foi a impressão causada pelo espetáculo. Andando mais à frente, qual não foi a nossa surpresa ao nos depararmos com a figura lendária de Werner Freund, o estudioso de lobos e criador do parque, que sob os olhares atentos de sua esposa encontrava-se dentro de uma das jaulas, cercado de lobos marrons, como se fosse um deles. Acenamos para ele, que nos ignorou friamente, como os lobos haviam ignorado as galinhas anteriormente. Aquele homem havia mesmo se tornado mais lobo do que gente - não que eu me admirasse que naquele país alguém preferisse mesmo ser lobo. 

Seguimos pelo caminho de volta, ainda extasiados por tudo o que vimos e ouvimos. Entramos numa cabana e tomamos uma cerveja servida praticamente na temperatura ambiente, como de praxe. Conversamos um pouco mais antes de partir. 

E é com a lembrança dessa tarde única e espetacular que eu acalmo o meu coração e finalizo o meu dia, já que a tosse não me deixa dormir.






Nenhum comentário:

Postar um comentário