domingo, 9 de setembro de 2012

Vômito



Talvez você seja apenas novo demais. Talvez tenha falado mentiras demais, e eu sei que você mentiu para você também e chegou até a acreditar nessa historinha inverossímil mal fantasiada de verdade. Você chegou a concordar com os próprios erros, porque encontrou um motivo nobre para eles existirem. Vestiu suas justificativas de roupas novas e admirou-as, enfim. Mas no fundo, lá no fundo desse peso latente, dessa leveza aparente, você não conseguiu se enganar. E era amargo. E você, lá no fundo, no âmago do carrasco que mora aí dentro, você criticou tudo isso, sentiu a feiúra por baixo das roupas novas e sentiu nojo. E esse sentimento, meu caro, vai te acompanhar pelo resto da vida. Por mais que você se sinta especial, por mais que considere a sua dor mais dolorida que a dos outros, por mais que considere passar por esse caminho feito de gente e dor alheia para chegar onde quer, você não irá muito longe.  Porque o poder do carrasco só se legitima enquanto houver vítima. Pobre carrasco o sem vítimas. Torna-se bichinho acuado, chora no canto e fica amável, sensível até, chorando a partida do que lhe emprestava a dor para que sentisse prazer. É de dar pena. Portanto, faça-me o favor de não dar mais sinais de vida. Eu estou forte e insensível e tenho vontade de vomitar ao lhe ver. Não acredita? Não vê? Pois bem, sinta.


Picasso, Weeping Woman



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