quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Viagem e autoconhecimento



Poucos prazeres se comparam ao de viajar, conhecer lugares e pessoas, aprender novas línguas, ouvir as variadas músicas das cidades e florestas, sentir os sabores e cheiros de cada lugar, descobrir vários mundos dentro do próprio mundo.

Nada mais engrandecedor do que carregar essas lembranças todas para sempre, tecer seu mundo interior com milhares de paisagens, seres e cores novas e se tornar assim um novo eu. Não há nada mais revelador do que estar na estrada, por vezes sozinho, com fome e frio, perdido, cansado, e chegar assim bem perto de quem você é, dos seus limites, medos e anseios.

É no final descobrir que sair pelo mundo é uma viagem mais interna do que externa. É aproximar-se mais de si próprio, de desvendar esse milagre que é estar vivo e ser quem você é, esse ser único e singular. É ver-se pequeno e ao mesmo tempo gigante no meio do mundo e descobrir-se parte ativa e integrante dele.

É nascer de novo e reaprender a enxergar. É enriquecer os sentidos. Experimentar coisas do seu jeito, ver com os próprios olhos e tocar com as próprias mãos, ser personagem de histórias únicas e incríveis que no final farão parte de você por toda a sua vida.

Selecionei alguns trechos de Sidarta onde Hermann Hesse descreve lindamente o processo de autoconhecimento e de reaprender a ver o mundo.

"Caminhando cada vez mais devagar, absorvido pelos pensamentos, Sidarta perguntou-se a si mesmo: “Mas que desejaste aprender dos teus mestres e extrair dos seus preceitos? Que será aquilo que eles, que tanto te ensinaram, não conseguiram propiciar-te?” E ele encontrou a resposta: “Era meu desejo conhecer o sentido e a essência do eu, para desprender-me dele e para superá-lo: Porém não pude superá-lo. Apenas logrei iludi-lo. Consegui, sim, fugir dele e furtar-me às suas vistas. Realmente, nada neste mundo preocupou-me tanto quanto esse eu, esse mistério de estar vivo, de ser um indivíduo, de achar-me separado e isolado de todos os demais, de ser Sidarta!
E de coisa alguma sei menos do que sei quanto a mim, Sidarta!”"

"Olhou o mundo a seu redor, como se o enxergasse pela primeira vez. Belo, era o mundo! Era variado, era surpreendente e enigmático! Lá, o azul; acolá, o amarelo! O céu a flutuar e o rio a correr, o mato a eriçar-se e a serra também! Tudo lindo, tudo misterioso e mágico! E no centro de tudo isso achava-se ele, Sidarta, a caminho de si próprio."

"O sentido e a essência não se encontravam em algum lugar atrás das coisas, senão em seu interior, no íntimo de todas elas."

Procurando ruínas incas no Peru

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